Rota das Frutas

Cooperativas abrem caminho para produção de frutas diferenciadas no Cerrado

Cooperativas abrem caminho para produção de frutas diferenciadas no Cerrado

Espécies adaptadas de açaí e mirtilo (blue berry) são a grande aposta de agricultores familiares de GO e DF, que se organizam em cooperativas para atender projeto da Rota da Fruticultura Em poucos anos, o Cerrado deverá se transformar em um novo polo de produção de frutas do Brasil, com a contribuição direta do cooperativismo. Órgãos públicos e privados uniram-se para criar a Rota da Fruticultura, na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF), que abrange o Distrito Federal, 29 municípios de Goiás e quatro de Minas Gerais. Uma das primeiras iniciativas implementadas no DF e Goiás foi o plantio de uma variedade de açaí, fruta típica da Amazônia.

Centenas de mudas de açaizeiro para terra firme, variedade desenvolvida pela Embrapa e adaptada ao clima do Cerrado, foram distribuídas no início do segundo semestre deste ano para agricultores familiares. Com o impulso dessa iniciativa, novas cooperativas surgiram na tentativa de organizar os produtores rurais dessas regiões.

Foi o caso da Cooperfartura, cooperativa que reuniu agricultores familiares da região de Formosa, que já produziam frutas como banana, melancia, graviola, acerola e goiaba. Segundo o presidente da cooperativa, Enio Leinz, tudo começou com um convite da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), no final de 2021, para que eles plantassem também açaí.

“A ideia foi deles (Codevasf), que nos convidaram para produzir essa novidade, com a garantia de recebermos as mudas da planta de açaí adaptada”, explicou Leinz. Além da doação das mudas, o projeto também garante a compra de toda a produção, cuja colheita está prevista para daqui a três anos.

Mudas de esperança

Os primeiros hectares do açaí do Cerrado foram plantados pelos cooperados da Cooperfatura, em agosto do ano passado. Enio Leinz foi o primeiro produtor a receber um hectare das novas mudas.

“Somos pioneiros de açaí em Goiás com essa planta adaptada. Confiamos que vai dar certo, porque é um projeto que já veio pronto e atestado pela Embrapa, o que é uma honra para a gente”, disse o presidente da Cooperfartura. Ao todo, 155 cooperados integram a cooperativa, 29 deles já estão plantando açaí.

A agricultora familiar e presidente da Associação dos Produtores Rurais do Campo Novo (Aprocan), Sebastiana Vieira de Souza, é associada e fiscal efetiva da Cooperfartura e mostra seus primeiros pés de açaí plantados em sua propriedade, com orgulho e empolgação. “Aqui estamos plantando esperança, sim, mas com muita certeza e confiança”, comemora. A expectativa da cooperativa, que foi criada ano passado e tem sede em Formosa, é reunir de 300 a 400 cooperados com plantio de pelo menos 500 hectares de açaí, em um período de até quatro anos.

Açaí adaptado para o cerrado

A segurança demonstrada pelos produtores cooperados da Cooperfartura, sobre os resultados do trabalho da Rota da Fruticultura, é sustentada, principalmente, em dois pilares: na união de forças dentro da cooperativa e no apoio técnico recebido pelo projeto. Com a assistência técnica do consultor da Embrapa Cerrados, Benivaldo Vaz, os desafios, como as dificuldades de investimento financeiro, estão sendo vencidos com orientações que são repassadas em frequentes reuniões.

“Orientamos que eles façam o plantio do açaí nas áreas onde já cultivam hortaliças e fruticultura, pois certamente já possuem sistema de irrigação funcionando e daí conseguem cuidar do açaí nesse consórcio das culturas”, explica.

A Embrapa Cerrados foi a responsável em desenvolver uma variedade adaptada ao clima
quente e seco do bioma Cerrado. Cada produtor prepara uma área de um hectare para
receber as mudas para o plantio. O programa vai disponibilizar aproximadamente 4 milhões
de mudas para a região envolvida no projeto. Como é um programa destinado a pequenos produtores que fazem parte da agricultura familiar, a maior dificuldade deles é o investimento financeiro.

As variedades de açaí desenvolvidas pela Embrapa para terra firme (BRS Pará e BRS Pai d’Égua) têm previsão de começar a dar frutos de forma plena em três anos. Até lá, a sugestão é que os agricultores trabalhem em consórcio com outras culturas. Em outros municípios, como Flores de Goiás e Pirenópolis, também já foram encontradas algumas plantas de açaí da espécie Euterpe Oleracea.

As variedades de açaí desenvolvidas pela Embrapa para terra firme (BRS Pará e BRS Pai d’Égua) têm previsão de começar a dar frutos de forma plena em três anos. Até lá, a sugestão é que os agricultores trabalhem em consórcio com outras culturas. Em outros municípios, como Flores de Goiás e Pirenópolis, também já foram encontradas algumas plantas de açaí da espécie Euterpe Oleracea.

O que é a Rota da Fruticultura

A Rota da Fruticultura Ride-DF quer transformar o fruticultor do DF e região em referência nacional. Por isso, vem se aproximando de agricultores que pretendam expandir suas lavouras e de interessados que queiram empreender na comercialização de frutas.

Com tecnologia, apoio e planejamento, o projeto é focado em cultivos com alto valor agregado, como é o caso do açaí e das frutas vermelhas (berries), dentre elas o mirtilo (blue berry). Mas todas as culturas de frutas já existentes também devem ser aproveitadas e aperfeiçoadas.

A Rota da Fruticultura é coordenada pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales de São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e desenvolvida em conjunto com a Embrapa Cerrados e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Tem apoio da Superintendência de Agricultura do DF, das Organizações das Cooperativas do DF e de Goiás (OCDF e OCB/GO), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-DF) e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF).

Prosperidade vem do vermelho e do azul

Além do açaí, diferentes frutas exóticas e nativas serão trabalhadas na Rota da Fruticultura, como mirtilo, amora, framboesa e jabuticaba. Por isso, o projeto reuniu produtores que tivessem os mesmos interesses no plantio das frutas vermelhas – também chamadas de berries –, que possuem alto valor agregado e vários nutrientes importantes para a saúde. Dessa necessidade de se investir na produção de frutas diferenciadas no Cerrado foi criada a Cooper Berries Brasil.

No mês de maio de 2022, após conhecerem o sucesso de uma pequena propriedade de mirtilo (ou blue
berry, em inglês), que cultivou 2 mil pés na região da Lagoa Formosa, em Planaltina, e que estava em plena colheita, 30 produtores fundaram a Cooper Berries Brasil. O grupo foi constituído com a finalidade de organizar a cadeia produtiva das berries, a compra em conjunto de tudo que se faz necessário ao plantio, as podas e a logística de escoamento da produção, além de promover cursos e treinamentos.
Conhecendo as dificuldades dessa produção, devido ao alto custo de implantação e às especificidades
de manejo e irrigação, os novos cooperados estão trabalhando juntos na produção de mirtilo nas cidades de São Sebastião, Brazlândia, Lago Oeste, Incra 09, Planaltina, Sobradinho, Formosa, Flores de Goiás, Água Fria de Goiás, Novo Gama, Quirinópolis e Goiânia. A estimativa da cooperativa para este ano é alcançar até 100 cooperados e plantio de 50 mil mudas, totalizando em torno de 35 toneladas de mirtilo para comercialização, depois de apenas um ano.

Grandes objetivos

Com apoio da OCB/GO, Sebrae e da Câmara Municipal de Planaltina, a Cooper Berries Brasil foi fundada no dia 30 de julho de 2022. De acordo com o seu presidente, Paulo Afonso, a cooperativa já nasceu com
a pretensão de se tornar a maior produtora de frutas vermelhas do Brasil. “Queremos também ser referência nessa produção e ainda suporte para o pequeno produtor da agricultura familiar em todo território nacional. Toda nossa produção será disponibilizada para exportação, por meio dos canais oficiais da Rota da Fruticultura”, explicou.

Segundo Paulo Afonso, o mercado de Brasília sempre consumiu frutas vermelhas. A novidade dos mirtilos produzidos no Cerrado é a qualidade do fruto.

“Por causa da constante incidência de luz solar, as frutas se desenvolvem com excelência. Nossa fruta tem propriedades medicinais e está disponível in natura e também nas formas de geleia, sorvetes e
sucos frescos”, revela.

Oportunidade

A vice-presidente da Cooper Berries Brasil, Marlene Mendes, foi a primeira produtora de mirtilo dessa região e estimulou com seu sucesso o atual grupo de cooperados. Consultora empresarial na área de gestão, Marlene ficou um ano sem trabalho no início da pandemia do coronavírus. Com essa realidade, buscou uma nova oportunidade de negócio que apresentasse lucro, mas também contribuísse com a comunidade.

Também foi por meio da Rota da Fruticultura, que ela conheceu a opção de produção de mirtilo e começou o investimento. “Encomendamos 2 mil pés e encontramos uma terra para começar o cultivo. Foi uma transformação para minha família e para outras pessoas. É um investimento que valeu a pena, porque, em um pequeno espaço de terra, temos uma riqueza, que é a produção dessa fruta, que rende lucro e possui muitas vantagens para a saúde das pessoas”, conta. Em um quinto de hectare plantado com 2 mil pés, Marlene espera produzir 2 toneladas de mirtilo, no final da safra. “É só o início de uma história de sucesso. Vamos atender o mercado nacional e o internacional, quando houver condições. O mirtilo é o milagre do agro, tem muitos nutrientes para o ser humano e, para o produtor, tem alto valor agregado. Tenho muito orgulho de ser produtora de mirtilo”, declara Marlene.

Mais produtividade e maior geração de empregos

A grande aposta do programa Rota da Fruticultura é que as atividades produtivas vão impulsionar a geração de vagas de trabalho no País. Segundo dados revelados pelo projeto, enquanto o plantio de soja cria uma vaga de emprego para cada dez hectares de lavoura, os pomares geram três vagas por
hectare – ou seja, 30 vezes mais.

Além do aumento de empregos, a ideia das instituições envolvidas no programa é potencializar a prosperidade do Cerrado para a fruticultura, basicamente desenvolvendo cultivares geneticamente superiores e ajustando o sistema de produção para outras frutas. Nesse primeiro momento, serão
plantados mil hectares de açaí, envolvendo a participação de cerca de 100 cooperativas e mais de mil produtores rurais. A meta é entregar mais de um milhão de mudas de frutos diversos até maio de 2023.

A Embrapa recomenda a utilização de mudas certificadas pela empresa para garantir qualidade e produtividade. Ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação estão previstas para monitorar os pomares e atender as demandas do setor produtivo. A expectativa é de que a região do Cerrado se
torne referência nacional no plantio comercial do açaí.


Cooperativismo

A base de todo o programa da Rota da Fruticultura são as cooperativas formadas por produtores familiares. O Sistema OCB/GO trata a agricultura familiar como prioridade, tanto no apoio do negócio, feito em parceria com o Sebrae-GO, quanto na constituição de novas cooperativas, na formação dos profissionais, na assessoria e consultoria no processo de gestão.

Remy Gorga Neto, presidente da OCDF, parceira do projeto Rota da Fruticultura

“Esse ramo é propício para se construir arranjos produtivos em forma de cooperativas. Assim, organizados, os produtores podem agregar valor aos seus produtos, ganhar em economia de escala e conquistar novos mercados”, destaca o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira. De acordo com a Organização das Cooperativas do Distrito Federal (OCDF), o trabalho começou com a organização dos pequenos produtores da agricultura familiar. Por meio do programa Agro Mais Coop, com a parceria da OCB/GO, oito cooperativas agro, cinco no DF e três em Goiás, receberam apoio para estruturação.

“Estamos apoiando as coops para que elas tenham toda estrutura de gestão apropriada para colocar em prática o projeto. Damos suporte para esses pequenos produtores na área de gestão das cooperativas nos setores administrativo, financeiro, comercial e marketing”, explicou o presidente do Sistema
OCDF, Remy Gorga Neto.

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