Reportagem Coop

Comunicação OCB/GO

Os investimentos e ações em inovação e práticas sustentáveis são uma realidade na maioria das cooperativas em Goiás, aponta o estudo Panorama do Cooperativismo Goiano, realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), a pedido do Sistema OCB/GO. Foram avaliadas dez práticas de inovação nas cooperativas goianas, por meio de uma escala de 0 (nada faz) a 4 (realizada com muita frequência). A nota média foi de 2,84.

Contudo, em alguns ramos do cooperativismo goiano, os investimentos e ações têm sido mais expressivos. É o caso dos ramos Consumo, Crédito e Infraestrutura. Os dois primeiros tiveram nota média de 3,20 e o ramo Infraestrutura, média de 3,02.

As práticas que mais se destacam nas cooperativas goianas, com notas acima de 3 pontos, são: aumentar a confiabilidade de produtos e serviços (3,38); estreitar e aprofundar relação com clientes e cooperados (3,25); aprimorar os conhecimentos e habilidades existentes (3,25); reduzir custos de produtos e serviços (3,25); melhorar a qualidade de produtos e serviços (3,13); e adquirir novas habilidades, rotinas e processos (3,0).

O estudo da UFG também fez o mapeamento das práticas de sustentabilidade das cooperativas goianas, como coleta seletiva e descarte correto do lixo; redução do consumo de descartáveis; uso consciente da água; uso de fontes renováveis de energia elétrica e maior digitalização em seus processos e documentos. O mapeamento constatou que a maioria (54,5%) das cooperativas goianas adota práticas sustentáveis em suas operações. Inclusive, 20,7% afirmam que vão ampliá-las.

Inovação Cooptech

O presidente o Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira, avalia que o cooperativismo goiano tem avançado muito rápido na área da inovação. Ele explicou que a entidade tem realizado várias ações neste sentido em Goiás, como a realização de meetups, além do Go!Coop, um desafio para estimular projetos inovadores entre o público cooperativista.

“O Sistema OCB/GO trabalha forte esse conceito de inovação, somos pioneiros com a criação do Inovacoop Goiás”, disse Luís Alberto na última sexta-feira (20/10), na abertura do Seminário de Inovação Cooptech, realizado em Goiânia. Na oportunidade, anunciou que Goiânia vai sediar em agosto do próximo ano o CoopsParty 2024, o mais importante congresso de liderança e estratégia do cooperativismo brasileiro.

Luís Alberto aproveitou também a presença da chefe da Assessoria do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, Denise Carvalho, que representou no evento a ministra Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), para pedir uma cadeira ao cooperativismo no Conselho Nacional de Tecnologia. “Concordo e levarei o pleito ao Ministério”, respondeu Denise.

O seminário, realizado durante todo o dia de sexta-feira, promoveu palestras com renomados especialistas na área de inovação. O CEO da Wine, Rogério Salume, tratou de fundamentos sobre liderança e estratégia e citou a própria empresa, referência nacional no comércio eletrônico de bebidas, como exemplo de transformação digital e inovação. “Invista 60% do seu tempo em pessoas, 30% analisando seus dados e 10% na execução de suas tarefas”, enfatizou.

“O primeiro desafio da inovação é preparar a cultura de uma empresa para não bloquear a inovação”, defendeu Francisco Milagres, curador do livro Organizações exponenciais 2.0.

Renata Nieto, coordenadora da Incubadora de Empresas da Universidade Mackenzie, afirmou que o grande diferencial dos profissionais do futuro será o olhar inovador. “Não adianta ter uma equipe de especialistas que só olham para o seu racional. O time tem que ser preparado para enxergar oportunidades”, disse. De acordo com ela, o tempo será curto para as pessoas escolherem onde inovar, para continuarem sobrevivendo. “Para levar sua empresa ao futuro, tenha capacidade de gerir incertezas e se adaptar a um contexto de mudanças”, frisou.

Inteligência Artificial

O professor e futurista Gil Giardelli falou sobre as fronteiras em constante evolução da tecnologia e da criatividade humana, além do medo dos profissionais que temem ser substituídos pela tecnologia e pela Inteligência Artificial (IA). “Todo dia vemos uma notícia trazendo pânico e informando que o mundo vai acabar com o avanço da tecnologia. É o fim das fronteiras e a aldeia global em prática. Teremos que repensar o mundo”, afirmou.

Segundo Giardelli, empatia é perceber que algo está errado, mas compaixão é arregaçar as mangas e ajudar na solução. Para ele, não há necessidade de pânico porque a IA só tem uma área de inteligência, enquanto o ser humano tem seis. “O maior desafio do futuro será juntar o melhor dos humanos com o melhor da tecnologia”, frisou.

Head de Internacionalização do CEIA da Universidade Federal de Goiás (UFG), Arlindo Galvão mostrou no evento o uso prático da IA em projetos de proteção à saúde, serviços de entrega, sistemas de segurança e seguros. Citou como exemplo as vistorias veiculares, que hoje já são realizadas de forma on-line.  “Possibilita aumentar a produtividade e reduzir o tempo de trabalho. As aplicações com IA conseguem gerar o que há de mais valioso para qualquer projeto ou negócio: informações estratégicas”, disse.

Joel Matos, gerente de Inovação do IEL/GO, afirmou que as cooperativas têm benefícios a ganhar na transformação digital. “Houve um despertar das empresas em relação ao uso da Inteligência Artificial. Temos que estar dispostos a mudar a maneira que fazemos. Cliente e usuário precisam estar no centro das decisões. A estratégia de inovação deve gerar valor ao cliente”, defendeu.

Sócio da StartSe e ex-sócio da XP Investimentos, Mauricio Benvenutti afirmou que a IA está redesenhando o perfil dos novos empregos. “A competição no mercado atual está mudando. Seu velho adversário e você juntos podem ser engolidos por uma fintech, uma plataforma, um aplicativo ou uma solução tecnológica que surge da noite para o dia”, frisou. Ele afirmou ainda que cada vez mais as grandes oportunidades nascem nos limites dos modelos clássicos de negócios.

Já Sandro Magaldi, cofundador da plataforma MeuSucesso.com, orientou os gestores e empreendedores a iniciarem uma transformação em seus negócios e enfatizou a importância da inovação e da cultura organizacional nesse processo. “A cultura é tudo aquilo que a pessoa faz quando o líder não está na sala. É o que alavanca todo o processo de metamorfose. As cooperativas devem se questionar se a cultura organizacional tem impulsionado ou servido de obstáculo para as transformações”, afirmou.

Entrevistas:

Rogério Salume

CEO da Wine,  referência nacional no comércio eletrônico de bebidas e exemplo de transformação digital e inovação

Invista 60% do seu tempo em pessoas, 30% analisando seus dados e 10% na execução de suas tarefas”.

Reportagem Coop- Como a sua trajetória de sucesso pode levar inspiração e provocar as cooperativas a inovarem?

Salume- O ser humano é um eterno sonhador. As pessoas sonham até em ser alguém que eles conhecem, mas a dificuldade de sair para a ação é muito grande. Existe o risco, o medo e a maioria não toma decisões por não sair da zona de conforto. Só que é no desconforto que as pessoas crescem, mudam e inovam. Tem que parar de sonhar, que não é deixar de sonhar, mas começar a imaginar, que é aquele negócio do olho aberto. Começe a planejar, a ver as possibilidades, os custos, o que isso vai trazer de benefício e o que você vai precisar adquirir pra chegar lá, na realização daquele sonho. Nesse ponto vai começar a agir, porque se você ficar só imaginando e não agindo, não dá em nada. Poucas pessoas agem.

Reportagem Coop- Como ajudar a gestão de uma cooperativa a implantar a transformação digital?

Salume– Há muita pressão hoje por uma mudança tecnológica nas empresas. O difícil é atingir a mentalidade digital para fazer uma mudança tecnológica e um investimento para que isso aconteça. O problema está em quem executa e toma decisões na gestão dos negócios. Percebo em palestras por todo o País que falta a mentalidade digital nas empresas. Uma empresa digital utiliza ferramentas tecnológicas, tem processos inovadores e tem um time autogerenciável. Diferente de uma empresa onde um manda e o outro obedece, sem compartilhamento de decisões. Só vai dar certo se houver mudança de mentalidade, com transparência e oportunidades para novos talentos. A partir dessa mudança é que vai fazer sentido uma transformação digital de fato.

Reportagem Coop- Na sua apresentação, você destacou que o time tem que ser torcedor da marca por qual trabalha. Por que, em muitos casos, o colaborador não veste a camisa do negócio?

Salume- Primeiro, ele não é convidado a vestir, isso é que precisa ser proposto, estimulado. As relações têm que ser colocadas pela empresa com ética, compromisso, comprometimento, disciplina, atitude e respeito. É precispo dar oportunidade e deixar claro que o sucesso do negócio todo é o sucesso de todos, não só meu, nosso. Então, as pessoas vestem a camisa quando fazem parte, de verdade, quando se sentem como parte de um todo.

Reportagem Coop- O cooperativismo é um modelo tradicional, qual sua opinião sobre eventos como esse, o Cooptech?

Salume- Muito legal a iniciativa. A essência do cooperativismo é a mesma de uma empresa que tem vários segmentos e, pensando assim, é a maior empresa do Brasil. É tradicional pela sua história que traz união de produtores, empresários, pessoas de determinado segmento para que a força dessa união gere mais benefícios para a sociedade e para todos. Então você tem aí um conjunto de pessoas, de famílias e ações que veêm de ações tradicionais. Mas, quando vemos o cooperativismo, que é o maior negócio do País, investindo em inovação, em digitalização e em tecnologia para tranformar o tradicional em inovador, eu só posso pensar que esse negócio vai dominar o mundo.

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Francisco Milagres

Fundador da Mirach Venturese curador do livro Organizações exponenciais 2.0

Para implementar inovação a gente naturalmente vai pisar nos calos de pessoas e de uma cultura criada para um momento de previsibilidade, de recorrência”.

Reportagem Coop- As organizações no mercado têm barreiras para investir em inovação. Como preparar uma cooperativa para a inovação? Qual a receita para se criar essa identidade?

Milagres- Um desafio para a cultura de inovação é que as pessoas estão sempre numa empresa preparada pra ser recorrente, repetitiva, com metas mensais, semestrais. Para implementar inovação a gente naturalmente vai pisar nos calos de pessoas e de uma cultura criada para um momento de previsibilidade, de recorrência. O desafio então é trazer novas competências e aprendizados para esse ambiente. Inclusive, com novos perfis de idade, gêneros, com diversidade. É preciso trazer competências laterais e, essencialmente, experimentar e aprender com o novo. É muito importante criar experiências, projetos de inovação e capturar os aprendizados. Quando se a gente fala em inovar significa de fato começar a receber essas inovações.

Reportagem Coop- Como gerenciar tamanha carga de novidades e novas tecnologias?

Milagres- A principal chave é escolha um problema muito grande da sua empresa, que tire o seu sono, e coloque ali um esforço para poder aprender o que existe de novo em tecnologia, dados e startups. O mundo tem quase oito bilhões de pessoas e sempre vai ter alguém fora da nossa empresa que pode resolver o nosso problema. Escolha alguma coisa muito específica que gera impacto, que vai reduzir custo, que vai gerar receita. Escolha aquele desafio para colocar numa agenda de inovação. Se abra pra isso, abra parcerias e conecte-se com start-ups de outras empresas. Mas traga isso como um aprendizado. Porque naturalmente a grande chance é de não dar certo, no princípio. Fazer esse aprendizado de cultura da empresa e compartilhar esse tipo de conhecimento essencialmente é escolher alguma coisa muito específica que vai dar resultado. Não existe só fazer evento, palestra ou alguma coisa sem propósito. Escolher uma dor, um desafio e coloque aí um esforço com o método que eles analisaram.

Reportagem Coop-Nesse ponto a gente imagina uma empresa com grande estrutura e nível organizacional muito grande. Ocorre que no cooperativismo há muita diversidade, com negócios de ponta e também de base. É possível que elas se encontrem num ambiente comum em relação à inovação?

Milagres- Com certeza. Vou dar alguns exemplos. Eu, por exemplo, numa empresa que trabalho com parceiros do mundo inteiro. Eu uso inteligência artificial, chat GPT, com plano que custa vinte dólares por mês, testando ferramentas gratuitas ou monitoradas para poder melhorar o meu negócio. Por exemplo, preparei um relatório para um cliente que precisava pesquisar vários relatórios grandes e subir esse PDF com documento específico. Coloquei as inteligências no sistema e discuti como se fosse um par, meu colega, só que era uma inteligência artificial para preparar isso no dia a dia. Então, o cliente daqui a duas semanas vai começar um novo projeto de uma área muito específica de crédito consignado, na área financeira. Ele quer descobrir o que que consegue fazer com esse volume de dados usando a IA. Ele poderia contratar de seis a dez pessoas a um custo alto poder a análise desses dados. Mas, não, eu coloco uma inteligência no sistema pra aprender, treinar, colocar uma ferramenta em prática para que em pouco tempo eu aprenda a usar. Tem ferramenta gratuita, têm ferramentas baratas na internet. Você pode contratar um treinamento on-line para fazer um treinamento mais simples e aprender com o tempo, sem grandes volumes de investimento.

Reportagem Coop- Como você analisa a iniciativa de um evento como o Cooptech que estimula a inovação no ambiente do cooperativismo?

Milagres- É excelente porque o primeiro passo para a inovação é trazer pessoas dos mais diferentes perfis para pensar sobre os problemas. Ao final, os desafios são os mesmos. Uma startup pode resolver o seu problema e também de outra cooperativa de outro segmento. Precisamos nos conectar com pessoas diferentes, em novos eventos como esse, para conseguir resolver os nossos problemas.