Alessandra Faria
Ascom do Sistema OCB/GO

Em 2022, consumidores de artesanato nos Estados de Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Goiás, que compraram produtos da Cooperativa de Trabalho dos Artesãos em Goiás (Cartago), levaram para casa peças embaladas em sacolas com os logotipos de duas cooperativas. Além da Cartago, o nome da cooperativa de crédito Sicoob Lojicred (que agora é Sicoob Centro-Oeste Br) circulou nas mãos de visitantes de feiras nacionais, em Recife (Feneart), Belo Horizonte (Feira Mãos de Minas) e Fortaleza (Fenacce), que tiveram a participação da cooperativa de artesanato. 

A divulgação foi resultado de uma ação de intercooperação iniciada em 2021. Nela, o Sicoob Centro-Oeste Br viabilizou a produção de mil sacolinhas para a Cartago, que tinha necessidade de embalagens personalizadas. Em contrapartida, a coop de crédito aproveitou o espaço para divulgar sua marca junto com a da parceira.  

Num simples exemplo de intercooperação, as duas cooperativas mostraram como é possível incrementar o próprio negócio com o apoio mútuo a outra cooperativa, levando em conta os princípios do cooperativismo. A via de mão dupla foi vantajosa para a Cartago, que aprimorou a qualidade das vendas em eventos estaduais, regionais e também na sua loja em Goiânia.  

Segundo a vice-presidente da Cartago, Maria do Cerrado, as embalagens foram suficientes para apoiar as vendas durante todo o ano de 2022. “Foi muito bacana, porque fizemos vários eventos no País e a logomarca das duas coops foi divulgada em vários Estados”, conta.    

A diretora-geral do Sicoob Centro-Oeste Br, Elizângela Fernandes, comemora a parceria. “É um grande exemplo de intercooperação, pela oportunidade de negócios e visibilidade da marca. Produzimos as sacolas para os artesãos, que também são nossos cooperados, porque usam as máquinas de cartão Sipag nos eventos. E, além disso, nossa marca é vista fora das nossas fronteiras, uma vez que as feiras ocorrem em todo o território brasileiro”, ressalta.  

Novas ideias  

O exemplo de intercooperação entre cooperativa de artesanato e de crédito deu tão certo, que será renovado e ampliado este ano. Em reunião realizada no último mês de março, a diretoria do Sicoob Centro-Oeste Br convidou os artesãos para fecharem novo contrato para a produção de embalagens.

Dirigentes da Cartago visiam a sede do Sicoob Centro-Oeste Br para acertarem nova parceria

   

Além disso, em breve, os produtos da Cartago serão expostos nas agências do Sicoob Centro-Oeste Br. “As peças irão compor nossa decoração e também poderão ser adquiridas pelos nossos cooperados. Assim, contribuímos ainda mais com o crescimento da Cartago, divulgando seus produtos, e conquistamos mais associados artesãos para a cooperativa, aumentando nosso volume financeiro”, ensina a presidente da coop de crédito.  

Oportunidade  

Aproveitar oportunidades para melhorar e amplicar os negócios. Foi o que acabou acontecendo com o encontro de dois cooperativistas durante um treinamento de líderes, oferecido pelo SESCOOP/GO, na Universidade de Lisboa, em Portugal, no início deste ano. Numa conversa entre o presidente da Cooperativa dos Proprietários de Veículos de Cargas do Espírito Santo (Cooproves), Robson Biancardi, e o presidente da Cooperativa Mista dos Produtores de Leite de Morrinhos (Complem), Sérgio Penido, os líderes identificaram a possibilidade da primeira operação comercial de intercooperação entre as duas cooperativas que atuam na cidade de Morrinhos.   

Com o atendimento a uma demanda urgente de logística da Complem, nasceu o início de uma intercooperação entre as duas cooperativas dos ramos de transporte e agro. “Que essa seja uma intercooperação muito forte, que possamos avançar, cada dia mais, naquilo que nos une, que é a geração do retorno que os associados tanto precisam, fortalecendo o cooperativismo”, disse o presidente da Complem, Sérgio Penido.  

Após transportar um carregamento para a Complem com custos menores em comparação ao mercado de transportes de cargas, aproveitando a própria logística, a Cooproves está estreitando relacionamento com a coop de agro e pretende aumentar as operações entre ambas. “Vamos fazer alguns estudos para avaliar como podemos atuar ainda mais com a Complem, em outros pontos de atuação”, anunciou Robson. 

Exemplo que vem do crédito  

O ramo crédito tem histórico de participação nas atividades de cooperativas de outros segmentos do cooperativismo e tem transformado realidades regionais, como é o exemplo da cooperativa Sicoob Sarom (antes, conhecida como Saromcredi), localizada em São Roque de Minas. Responsável pelo desenvolvimento socioeconômico da região da Serra da Canastra, a cooperativa vem se destacando, desde 1991, como alternativa de crédito para a continuidade das atividades rurais da região e também pela oferta de projetos e parcerias nas áreas de educação, saúde e lazer.  

Com esse modelo de boas práticas, o Sistema OCB/GO, por meio do projeto Aprimoora, sugeriu uma proposta de intercooperação entre uma cooperativa de crédito e outra de serviços em educação, localizadas em Quirinópolis (GO), na região Sudoeste de Goiás. Na área financeira, a Cooperativa Educacional de Quirinópolis (CEQ) já era atendida há alguns anos pelo Sicoob Agrorural. Com a sugestão do Sistema OCB/GO, a diretoria da CEQ elaborou um projeto de intercooperação entre as duas cooperativas.  

Bolsas de estudo  

Na prática, a CEQ desempenha uma campanha de mobilização contínua para que os pais dos alunos da unidade sejam cooperados do Sicoob Agrorural, usa a marca da cooperativa de crédito na camiseta do uniforme dos alunos e ainda colaboradores e cooperados utilizam os serviços da instituição financeira para movimentação bancária, emissão de boletos, seguros e máquinas de cartão. Em contrapartida, a coop de crédito financia anualmente dez bolsas de estudo para alunos da rede pública de ensino.  

Com a disponibilização dos recursos das bolsas, R$ 10 mil reais por mês, a CEQ pode viabilizar desde o ano passado a instalação do sistema de energia solar que atende a escola. A parceria que começou em abril de 2022 segue até março de 2024, mas com possibilidade de continuidade. “Acreditamos que a parceria deu certo e que tem chance de continuar”, declara Ana Cristina Alves dos Santos, diretora presidente da CEQ.  

6º princípio  

O Sistema OCB/GO tem buscado integrar as cooperativas a partir de projetos pautados nas diretrizes estratégicas de Mercado e Intercooperação. A Coordenação de Desenvolvimento de Cooperativas oferece apoio para todo o processo de construção da intercooperação entre cooperativas goianas. Segundo o coordenador Carlos Matos, o “a intercooperação precisa ser compreendida pelos dirigentes como uma ação estratégica para o fortalecimento do modelo de negócio. Está relacionada à obtenção de resultados em escala, vantagem competitiva e agregação de valor aos produtos e serviços oferecidos pelas cooperativas envolvidas no processo”.  

Atualmente em Goiás, a intercooperação vem sendo praticada cada vez mais, principalmente em operações de compra e utilização de produtos ou serviços entre cooperativas. Como exemplos, é possível citar a movimentação financeira em cooperativas de crédito, a utilização de planos de saúde e odontológico e a utilização de serviços de cooperativas de trabalho e transporte. Mas, para o coordenador de Desenvolvimento de Cooperativas, “há ainda muito espaço a ser percorrido, para de fato as cooperativas vislumbrarem as inúmeras vantagens das alianças estratégicas firmadas, além da compra e venda de produtos entre elas”.  


Mais vantagens
Veja alguns critérios que podem ser observados na hora de buscar parcerias para a intercooperação.

* A expansão da força competitiva de cada uma das cooperativas ou até mesmo a constituição de uma nova cooperativa central eventualmente formada  

* Melhora do acesso aos recursos tecnológicos, padronização e otimização dos processos e recursos financeiros, comerciais e humanos

* Compartilhamento dos riscos do negócio e dos custos administrativos e de investimentos  

* Agregação de valor e fortalecimento dos produtos ou serviços, redução de custos, criação de novos produtos/serviços  

*Aperfeiçoamento do acesso aos mercados  

* Melhorias nos processos produtivos, otimizando instalações e desenvolvendo padrões operacionais  

* Identificação e exploração de novas oportunidades

* Aprendizagem organizacional compartilhada


ENTREVISTA – MARCOS ZANIN
“É preciso ver novas oportunidades
de negócios para fora da porteira”

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